Adorava poder voar. Por vezes tudo o que é necessário é escapar ao mundo, e deixar-me levar pelo vento parece uma opção bastante tentadora, apesar de inviável.
Deixar-me envolver pelos ventos que me abalam ao invés de ser por eles arrastada contra a minha vontade, subir bem alto e nunca cair - em vez de sonhar sempre mais e mais até acabar por cair, sempre com crescente esforço e dor.
Confesso que sinto algumas saudades do meu antigo mundo de sonho e perfeição, onde tudo era cor-de-rosa e a mágoa, a angústia e as saudades ainda me eram palavras desconhecidas. No dia em que perdi aquela inocência toda que me era característica, a cor e o brilho desapareceram e ficou apenas a verdadeira pátina do mundo: o negro do medo e da solidão. A escuridão envolvente e sufocante, que ia retirando a pouco e pouco a força de vontade e a esperança, deixando um vazio impossível de suportar.
É por isso que sonho com voos sem quedas, com a plenitude sem defeitos, com... contigo! Contigo, comigo, connosco... sonho passados, presentes e futuros, sonho vidas e momentos...
Crio na minha imaginação um livro de histórias que nunca seria capaz de confessar. Nem a mim mesma.
Voamos?